Sinopse - Margô mora em uma casa caindo aos pedaços, num bairro abandonado, com sua mãe que a ignora há dois anos. Ela se sente invisível, até que a amizade com Judah, seu vizinho cadeirante, muda suas perspectivas e a desperta. Quando uma criança de sete anos desaparece em seu bairro, Margô resolve investigar o caso com a ajuda de Judah e o que ela descobre a transforma por completo. Agora, determinada a encontrar o mal, caçar todos os molestadores de crianças, torna-se a razão de sua vida. Com o risco de perder tudo, inclusive sua própria alma, Margô embarca num caminho sem volta... E o que isso diz a ela sobre si mesma? Por que decidiu fazer justiça? O que a tornou tão invisível?
"Invisível" é o novo livro da autora Tarryn Fisher publicado no Brasil pela Faro Editorial.
O livro conta a história de Margô a partir da sua infância. Narrado em primeira pessoa, o enredo se desenvolve a partir das fases de vida da protagonista. A jovem Margô de treze anos de idade narra a sua vida na cidade de Bone Harbor, na "casa que devora".
É triste e completamente arrebatador saber que a protagonista é completamente invisível no mundo. Dividindo uma casa caindo aos pedaços com a mãe, Margô não tem quase contato humano e muito menos recebe carinho ou amor. Sua mãe tornou-se um "zumbi", pois além de receber homens em sua casa (e ordenar que a filha não fique no caminho), os únicos momentos em que ela fala com a filha é para dar ordens, nem ao mesmo chamando a garota pelo nome. É uma existência triste e solitária e Margô tenta se apegar ao passado, quando a mãe ainda era uma mulher sorridente e que amava a filha, ao invés da casca vazia que é consumida cada vez mais todos os dias.
"A casa que devora" fica em um bairro rodeado pela pobreza e pelo crime. É normal na vida de Margô ter um vizinho traficante de drogas e todo mundo saber disso, ter um horário de recolher estabelecido, mas não oficial e saber que para sobreviver, é necessário manter a cabeça baixa e ficar de boca calada.
Os anos passam e Margô consegue um emprego em um brechó e vai vivendo seu dia após dia sem muitas perspectivas. O bairro é o seu passado, presente e futuro. A única pessoa que traz luz em seus dias é Judah o jovem vizinho cadeirante. Diferentemente de muitos no bairro, Judah tem um pai presente em sua vida, que mora em outra cidade e vem buscá-lo de tempos em tempos. Ele também estuda em uma boa escola e tem perspectivas diferentes para o seu futuro. Algo raro em um local tão sem esperanças.
"- Você tem que entender algo sobre Bone - diz Judah. -Todas as coisas ruins que acontecem aqui lembram as pessoas do que elas estão tentando esquecer. Quando se é rico e vê coisas como essa na TV, você abraça seus filhos e se sente grato por não ser você. Quando se é de Bone, você abraça seus filhos e reza para não ser o próximo."
Outro momento em que Margô sorri é ao se encontrar ocasionalmente no ônibus a caminho do trabalho com a pequena Nevaeh, uma garotinha do bairro com um sorriso no rosto e uma mochila colorida nas costas, que divide seu tempo entre a casa da mãe e da avó. Quando seus caminhos se esbarram, Nevaeh está sempre contando as novidades da escola para Margô ou como se divertiu na casa da avó. E Margô fica realmente feliz em saber que Nevaeh tem coisas boas em sua vida. Então, quando Nevaeh desaparece poucas tempos depois de descer do ônibus, algo quebra em Margô. Algo que transformará essa jovem invisível em alguém que se cansou de todo o mal que presenciou...
"Meu coração dói, como se estivesse cansado e machucado. Mães machucando seus filhos, mães desistindo de seus filhos, mães amando algo mais do que seus filhos."
A trama é repleta de reviravoltas e ao mesmo tempo, tem uma sensibilidade ímpar ao retratar de forma tão visceral a história da protagonista.
Um dos pontos de destaque do enredo é a narrativa em primeira pessoa. Afinal de contas, será que Margô é uma narradora confiável? Com uma vida tão turbulenta e repleta de dor, seria possível que sua visão do mundo estivesse distorcida? É essa incerteza que move o leitor a avançar página por página.
“As pessoas fazem coisas ruins no escuro, sob o olhar vazio da lua. Ela está sorrindo para mim agora, orgulhosa do meu pecado. Eu não tenho orgulho. Eu não sou nada. Olho por olho, digo para mim mesma. Surra por surra.”
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