Sinopse - Conflito amoroso, suspense e contexto histórico se misturam a esta história de amor ambientada nos anos 70, em plena ditadura militar brasileira. A juventude da filha Dominique desperta em André, um executivo bem-sucedido, sentimentos que ele julgava esquecidos, mostrando que as fronteiras da memória são tênues e marcantes. Sem medo, André embarca em uma viagem rumo ao passado e desembarca no México, onde o destino será seu guia.
De tempos em tempos nos deparamos com uma obra que consegue nos deixar emocionados, sem a necessidade de exaltar situações mirabolantes ou incógnitas escondidas em seu texto. Histórias que emocionam através de personagens humanizados, repletos de defeitos e até mesmo tomando decisões que discordamos, mas que compreendemos. Foi isso que aconteceu comigo durante a leitura de “Lugar cheio de rãs”.
A trama se desenrola principalmente no final da década de 1970, início de 1980, onde somos apresentados à família Andrade: a mãe Raquel, o pai André e a filha Dominique.
Dominique é uma jovem de 15 anos que ainda possui certa ingenuidade e romantismo indomável, que a leva a sonhar com um “príncipe” russo. Porém, esse devaneio de uma jovem apaixonada não é visto com bons olhos pela sociedade brasileira, que se encontra em um cenário político desfavorável aqueles que não concordam com a visão do governo. Independentemente dos perigos, a jovem, sem malícia, continua expressando em alto e bom tom o seu amor, o que preocupa os seus pais e que faz com que André relembre da sua própria juventude.
André é um ótimo marido, um pai amoroso e um líder nato em seu local de trabalho. Como presidente de uma filial norte-americana da A. Smith Corporation, ele possui muitas responsabilidades, mas diferentemente de muitos que chegam ao poder e se impõem aos outros, é um líder justo, que tenta arduamente, extinguir qualquer tipo de preconceito no trabalho, apesar dos obstáculos que encontra diariamente. Talvez seja sua origem humilde e o fato de que perseverou para conquistar cada um de seus objetivos e saiba em primeira mão o quanto é difícil se erguer por conta própria. Apesar de ter uma vida considerada idílica, André sofre com a falta de encerramento de alguns assuntos de seu passado.
“Meu filho, sempre vamos poder escolher entre o bem e o mal. Mas se escolhermos o mal, cedo ou tarde virá o retorno. Às vezes, a dor nem nos atinge diretamente, mas cai sobre as pessoas a quem mais amamos na vida.” (p. 67)
Conforme ele observa a teimosia de Dominique em realizar seus sonhos, mais André se sente determinado em descobrir o que aconteceu com o seu primeiro amor.
Um dos destaques da obra, na minha opinião, foi o fato de que a autora Celina Moraes conseguiu ceder o protagonismo da trama para vários personagens, sem perder o foco central da história e ao mesmo tempo, fazendo com que o leitor se identifique com vários personagens. O assédio sofrido por muitas mulheres que, por necessitarem de um emprego, ficam caladas; a luta diária daqueles que tem origens mais humildes e que, mesmo passando por situações até mesmo humilhantes, erguem o queixo e seguem em frente e até mesmo aqueles que se sentem maiores ao colocar alguém para baixo.
“Quando estamos na luta pela sobrevivência, uma das leis que aprendemos é saber distinguir o bem do mal pelo instinto e a ler o olhar, e não ouvir as palavras, que enganam.” (p. 92)
Essa resiliência que encontramos em vários personagens é por si só um atrativo inigualável, que envolto em uma das épocas mais tristes da história brasileira, faz com que os olhos fiquem cheios de lágrimas. Quantas pessoas como Aline, Pedro, Thiago, Matheus, Ariadne, Renato e Alfredo não passam pelas nossas vidas?
Mas não se trata apenas de um enredo melancólico. Existe a esperança, o amor, a força e a determinação do ser humano que resplandece em cada página lida, que incita ao leitor a continuar virando as páginas e ao finalizar a leitura, compreender que a vida não é sinônimo de felicidade eterna. Porém, sem momentos de escuridão, como poderíamos apreciar a luz?!
“.. coragem é a arte de sentir medo sem que ninguém perceba.” (p. 59)
Precisa de mais um motivo para ler a obra da Celina Moraes? “Lugar cheio de rãs” recebeu o prêmio “Lúcio Cardoso” pelo terceiro lugar na categoria “Romance” no Concurso Internacional de Literatura realizado pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ) em 2010.
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