Resenha: A paixão secreta de Leonardo da Vinci - A. J. Cattelan - Leituras e Afins no Litoral

 
Sinopse - Leonardo da Vinci é conhecido por suas criações e invenções magistrais, sublimes e inovadoras. Suas pinturas, estudos, projetos e desenhos estão entre os mais belos e perfeitos já elaborados pelo gênero humano! Apesar das inúmeras biografias já escritas, quase nada se sabe sobre sua vida íntima, seus temores, suas crenças, suas motivações, seus desejos... Será que uma mente tão brilhante poderia encontrar alguém à altura para compartilhar seus sentimentos mais profundos, suas inquietações, suas angustias, suas dúvidas, seu amor...? Esse intrigante e instigante romance, cuja leitura nos prende do início ao fim, tem como pano de fundo os acontecimentos históricos e descreve os personagens reais que conviveram com Leonardo da forma mais acurada possível. Assim, a envolvente narrativa nos permite ter um vislumbre de como era o verdadeiro homem em sua vida cotidiana e compreender como um amor que transcende a dimensão terrena pode ter influenciado de forma decisiva a vida de um dos maiores artistas que o mundo já conheceu!

O autor A. J. Cattelan criou um romance intimista tendo como protagonista uma personalidade mundialmente conhecida: Leonardo da Vinci.

Nessa história surpreendente, teremos a história desse grande mestre vista pela ótica de dois de seus pupilos, uma mulher que teve um papel inestimável na vida de da Vinci e do próprio artista. Além da narrativa dos capítulos alternando as perspectivas entre os personagens, temos também imagens das grandes obras desse artista inestimável no início dos capítulos, dando maior vivacidade as narrativas que se seguem.

O enredo começa no verão de 1490 nos arredores de Milão, com o primeiro encontro entre Leonardo e seu pupilo Salaí, um jovem belíssimo. Durante uma cavalgada, Leonardo avista Gian Giacono Capotte, filho do capataz da propriedade, que posteriormente será chamado carinhosamente de Salaí, pelo mestre.

Leonardo o aceita como pupilo e logo ambos parte para Milão, onde vamos percebendo que Salaí é um jovem com certas características duvidosas (“mentiroso, ladrão, teimoso, glutão e perdulário” - palavras do Mestre), mas que tem um ótimo convívio com Leonardo e acaba se tornando não apenas seu pupilo como também administrador da casa e das finanças.

Os dois convivem de modo pacífico por quase uma década, perturbados pela invasão de Milão pelas tropas francesas em 1499. Diante disso, ambos se mudam para Florença, onde Leonardo tem certa dificuldade em conseguir comissões.

Até que Francesco del Giocondo, um rico comerciante de seda e roupas finas contrata o artista para retratar sua esposa “Mona” Lisa del Giocondo em comemoração pelo nascimento do seu filho Andrea. A partir desse trabalho, Leonardo e Lisa terão encontros frequentes no ateliê por anos, onde irão conversar abertamente sobre vários assuntos: os interesses do artista em anatomia, arquitetura e observação das aves (para descobrir uma forma de fazer com que o ser humano alce voo).

Fica claro que desde o primeiro momento Leonardo fica atraído por Lisa. Alguns poderiam dizer até que foi um “reencontro de almas”, pois Lisa vai se mostrando uma jovem inteligente e indagadora, ótima ouvinte e que compartilha de muitas opiniões do artista. É uma moça belíssima, mas que tem uma complexidade encantadora, uma mente inquisitiva e um senso muito forte do seu papel como esposa, mãe e mulher na sociedade de época.
“Sem perceber, o interesse por nossos encontros foi crescendo e comecei a ansiar pelo dia em que o veria novamente.”
O leitor vai sendo envolvido lentamente nesses encontros, conhecendo figuras ilustres como Nicolau Maquiavel e Américo Vespúcio, mas também conhecendo a vida de Leonardo: a história da sua mãe Caterina di Meo Lippi, seu desafeto com Michelangelo e até mesmo a história de outras personalidades, como Ludovico Sforza e suas amantes. É uma leitura rica em contexto histórico, onde vamos sendo situações nas questões políticas da época, mas também na cultura e na sociedade como um todo.

Os anos vão passando e novos personagens vão sendo incluídos e ganhando destaque, como o novo pupilo Francesco e seu grande senso de responsabilidade, e até mesmo a corte francesa, com destaque ao Rei Francisco e seu grande respeito por Leonardo.

Leonardo é retratado como um grande talento, inteligente e muito sensível, que atua como pai, amigo e conselheiro de muitos, mas que também demonstra grande vulnerabilidade quando se trata dos assuntos do coração. É essa visão tão intimista que torna a leitura tão maravilhosa!

Lisa é uma mulher consciente do seu papel na sociedade e da sorte que teve com o seu casamento arranjado (Afinal de contas, o seu marido não é apenas um ótimo provedor como também um homem decente). Mas ao mesmo tempo, é uma personagem que sente falta do sentimento de vivacidade, que consegue apenas nos encontros com Leonardo, onde conversam abertamente sobre tudo.

A construção do romance é lenta, mas firmada em cima de um sentimento de amizade, companheirismo. A conexão intelectual entre ambos, o respeito que vai surgindo e florescendo é lindo de se ler.
“O espírito é uma potência ligada ao corpo, porque por si só não pode se sustentar. A única fonte de alegria que ainda restou é olhar para seu belo rosto no retrato em que trabalhei por tantos anos...”
Salaí traz um lado mais infantil para o enredo. Como uma criança mimada, ele fica injuriado quando a atenção de Leonardo se volta para outra pessoa ou quando suas vontades não são satisfeitas. Ao mesmo tempo, ele demonstra um amor e lealdade verdadeiro, mesmo sem saber expressar de forma correta.

Francesco chega como uma lufada de ar fresco. Ele traz uma nova dinâmica ao ateliê (que não é apreciada por todos), além de um grande senso de responsabilidade e honra.

A. J. escreveu uma obra bem estruturada, embasada em fatos e acontecimentos históricos (com muitas referências no final do livro para quem quiser conferir) e que ao mesmo tempo, permitiu ao leitor romantizar a vida do ilustre Leonardo da Vinci!
“Mesmo assim, meus olhos continuavam a segui-lo para onde quer que ele fosse e apresentavam brilho e viço como se eu estivesse viva na tela!”
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